As sociedades parecem ter evoluído juntamente com o Homem.
O Homem evoluiu de acordo com uma directriz que desconhecemos em absoluto. O mais perto que podemos chegar dela é para dizer que se apurou para sobreviver – é o que nos parece.
E o que parece também ser o caso das demais espécies vivas, ainda que saibamos que algumas soçobraram.
As sociedades a partir do somatório das cabeças, grosseiramente dito.
Há depois a questão misteriosa dos valores.
Temos, ainda, cada um de nós um ideal de sociedade, de justiça, de conforto, de bem. E com vista no qual, às vezes pensamos que nos aperfeiçoaremos com o tempo. Sendo que cada pessoa terá o seu ideal, haverá diversíssimos pontos de contacto entre os valores de cada um e os do seu próximo.
Creio que tudo isto é coisa perecível e que um dia virá em que os valores sejam mais uma coisa arrumada nas prateleiras do pensamento mágico.
Mas, por enquanto, enquanto ainda os cultivamos, há coisas que dificilmente se entendem ou só se entendem à luz de uma sociedade comandada por mentecaptos, sujeita a uma teoria do coitadinhismo em que as regras de civilidade não são para cumprir, que o criminoso é sempre mais coitado do que a vítima, em que não há nem pode haver castigo para a prevaricação, a menos que... E é esse a menos que que é incerto, que é sujeito às modas que ora se inculcam ao povoléu ora o dito inventa a partir da tal evolução a que estão sujeitos os seus elementos.
E digo que são mentecaptos não por concordar ou discordar do que teorizam. Digo-o porque vejo serem incongruentes os edifícios teóricos que esboçam, por não serem capazes de lhes preverem as mais básicas das consequências e por depois se queixarem das regras que explícita ou implicitamente criaram.
As notícias de ontem e de hoje dão conta, a serem verdadeiras, de duas situações paralelas que bem ilustram este desnorte.
Diz-se que os persistentes não-pagadores de impostos vão parar à cadeia. Não me oporia se não ouvisse a seguir que os tipos que mataram um desgraçado à pancada e o abandonaram numa espécie de fundo de um poço, apanharão – apenas um deles – no máximo uma qualquer pena suspensa.
A ser isto verdade, este é apenas mais um sinal do que é há muito uma certeza. Estamos entregues a mentecaptos, cheios de teorias sociais que, de resto, são completamente incapazes de compreender.