Domingo, 16 de Maio de 2004
Sobressalto
Ia embicado às bóias, bolas, postais e jornais estrangeiros.
Como sempre, na avidez do jornal de sábado, último hábito informativo que se permitia em férias.
O companheiro de ressaca ia calado, talvez magicando numa solução frugal para o jantar. Caldeira ainda quente.
Quando a voz chamou, os dois pararam e entreolharam-se, tentando reconhecer quem chamava e a qual deles.
É a ti - disse o companheiro.
Eh lá! Uma gaiatona. O que é que ela quererá?
Tem juízo, pá. Não vês que é uma miúda? Para aí com uns treze anos!
Atravessou a estrada na direcção da carrinha. Agora via que era uma miúda novinha. Uma carinha encantadora e sorridente.
Então quando é que volta a cantar lá no bar?
Hmmmmm. Lá no bar?
Sim, naquele da piscina. Gostei muito de o ouvir.
Ah, obrigado. Pois é, um dia destes... quem sabe?
Vá. Vá, que eu gostei de o ouvir e aos seus amigos.
Obrigado.
Olha lá, Zé, tu deste por mais alguém lá no bar ontem à noite?
Eu? Achas que sim? A gente até perdeu o outro no caminho...
É que a miúda diz que gostou de me ouvir...
Olha lá, o teu tio nunca teve uma Peugeot 504? Aqui há uns vinte anos?
Não.
Nunca andaste numa nesses anos de Algarve? Ninguém conhecido que tivesse uma?
Não me lembro. Acho que não.
E a um bar onde havia fado vadio, junto a uma piscina? Nunca foste?
Não. Porquê?
Por nada. Vamos dormir. É quase dia.